Chegam-me à memória nestes instantes cenas de uma passada reencarnação minha na Idade Média. Vivia na Áustria, de acordo com os costumes da época. Não posso negar que era membro de uma ilustre e rançosa família da aristocracia.
Naquela época, meus familiares, minha estirpe, julgavam-se demasiado sangue azul, devido aos notáveis avoengos e nobres descendentes.
Causa-me pena confessá-lo, e isso é o grave, eu também estava metido nessa garrafa de preconceitos de sociedade. Coisas da época!
Um certo dia, não importa qual, uma irmã minha enamorou-se de um homem pobre. Claro que isso tornou-se o escândalo do século. As damas da nobreza e seus néscios cavalheiros, janotas, empertigados, engomados, esfolaram vivo o próximo, escarneceram da infeliz. Diziam que ela havia manchado a honra da família, que poderia ter se casado bem melhor, etc. Não demorou muito tempo e a pobre mulher ficou viúva. Como resultado de seu amor restou-lhe um menino.
E se tivesse querido voltar ao seio da família? Porém, isso não era possível. Ela conhecia demasiado a língua viperina das elegantes damas, sua enfadonha disciplina, seu desdém… e preferiu a vida independente.
Que eu ajudei a viúva? Seria absurdo negá-lo. Que me apiedei do sobrinho? De fato, foi verdade. Porém, infelizmente, há vezes que alguém, por não lhe faltar a piedade, pode se tornar impiedoso. Este foi o meu caso. Compadecido do menino, o internei em um colégio (dizia para que recebesse uma educação firme e rigorosa), sem me importar, nem um pouco sequer, com os sentimentos de sua mãe. Até cometi o erro de proibir a sofrida mulher de visitar seu filho. Pensava que assim meu sobrinho não se prejudicaria e mais tarde poderia ser alguém, chegar a ser um grande senhor, etc. O caminho que conduz ao abismo está empedrado de boas intenções. Verdade? Pois, assim é. Quantas vezes, querendo fazer o bem, fiz o mal. Minhas intenções eram boas, mas procedia equivocadamente e, no entanto, acreditava firmemente que estava agindo corretamente. Minha irmã sofria demasiado com a ausência do seu filho. Não podia vê-lo nem no colégio porque fora-lhe proibido.
A todas as luzes salta aos olhos que houve de minha parte amor para com meu sobrinho e crueldade para com minha irmã. Mas, eu acreditava que, ajudando o filho, estava a ajudar também a mãe. Felizmente, dentro de cada um de nós, nessas regiões íntimas onde falta amor, surge como por encanto a polícia do Carma, o Kaon.
Não é possível fugir dos agentes do Carma. Em cada um de nós está a polícia do Carma, a qual nos conduz inevitavelmente para os tribunais. Passaram-se muitos séculos desde aquela época. Todos personagens daquele drama envelheceram e morreram. Mas, a lei da Recorrência é terrível. Tudo se repete da mesma maneira com o acréscimo das conseqüências.
Século XX. Reencontro de todos atores daquela cena. Tudo se repetiu, de certa forma, porém com suas conseqüências. Desta vez fui eu o repudiado pela família, eis a lei. Minha irmã encontrou-se outra vez com seu marido e eu voltei a me unir com Litelantes, minha antiga esposa sacerdotisa. Aquele tão amado e discutido sobrinho renasceu entre nós, mas desta vez em corpo feminino. É uma menina muito formosa, seu rosto parece uma deliciosa noite e em seus olhos resplandecem as estrelas.
Há algum tempo, vivíamos perto do mar. A menina estava gravemente enferma (o antigo sobrinho) e não podia brincar. Tinha uma infecção intestinal. O caso era bastante delicado, porquanto vários meninos de sua idade tinham morrido naquela época devido a mesma causa. Por que seria minha filha uma exceção?
Os numerosos remédios que se lhe aplicaram foram francamente inúteis. Em seu rosto infantil já começava a se desenhar com horror o perfil inconfundível da morte.
O fracasso era evidente. O caso estava perdido e não me restava outra solução senão a de visitar o Dragão da Lei, esse gênio terrível do Carma, cujo nome é Anúbis.
Felizmente…! Graças a Deus! Litelantes e eu sabemos viajar consciente e positivamente em corpo astral e juntos nos apresentamos no palácio do Grande Arconte, o qual se acha no Universo Paralelo da quinta dimensão.
Impressionante, majestoso, grandioso, aquele templo do Carma. Lá estava o imponente Jerarca, sentado em seu trono terrivelmente divino. Quem não se espantaria ao vê-lo oficiar com a sagrada máscara de chacal, tal como aparece em muitos baixo-relevos do antigo Egito faraônico. Por fim, foi me dada a oportunidade de lhe falar e não a deixei passar, dizendo-lhe: Tu tens uma dívida para comigo. Qual? Replicou assombrado. Satisfeito, nomeei a um homem que em outros tempos fora um perverso demônio. Refiro-me a Astaroth, o grande duque. Ele era um filho perdido para o Pai - continuei explicando - e, no entanto, o salvei. Mostrei-lhe a senda da luz e o tirei da Loja Negra. Agora é um discípulo da Fraternidade Branca e tu ainda não me pagaste esta dívida.
O caso era que aquela menina devia morrer, de acordo com a lei. Sua alma devia penetrar no ventre da minha irmã para nascer em novo corpo físico. Eu entendia tudo aquilo e foi por isso que acrescentei: Peço que vá Astaroth para o ventre da minha irmã ao invés da alma da minha filha. A solene resposta do Jerarca foi definitiva: Concedido. Que vá Astaroth para o ventre da tua irmã e que tua filha fique curada.
Resta ainda dizer que aquela menina, o antigo sobrinho, curou-se milagrosamente e minha irmã concebeu a um formoso varão.
Eu tinha com que pagar essa dívida, possuía o capital cósmico necessário. A lei do Carma não é uma cega mecânica como supõem muitos pseudo-esoteristas e pseudo-ocultistas. Da maneira como estavam as coisas, torna-se bem evidente compreender que, com a morte de minha filha, eu deveria sentir a dor do desprendimento, aquela amargura que, em épocas anteriores, sentira minha irmã com a perda de seu filho. Assim, perante a Grande Lei ficaria o dano compensado. Repetiram-se as cenas semelhantes às passadas, porém desta vez a vítima seria eu mesmo.
Felizmente, o Carma é negociável. Nada tem que ver com essa mecânica cega dos astrólogos e quiromantes de circo. Tinha capital cósmico e com ele paguei a velha dívida. Graça a Deus, consegui evitar a amargura que me aguardava.
Quando será que as pessoas compreenderão todos os mistérios da Runa Rita? A Runa da lei. Rita recorda-nos a palavra razão, religião, roda, recht (justo, eqüitativo em alemão). O Direito Romano tem como símbolos da Justiça a balança e a espada.
Portanto, não estranhem que no palácio de Anúbis hajam balanças e espadas por toda parte. O Grande Juiz é assessorado em seu trabalho por 42 juízes da lei.
Jamais falta diante dos tribunais do Carma os ilustres advogados da Grande Lei, que nos defendem quando temos capital cósmico suficiente para cancelar as velhas dívidas.
Também é possível conseguir crédito junto aos Senhores da Lei ou Arquivistas do Destino, porém tudo se paga com boas obras, trabalhando pela humanidade, ou à base de suprema dor. Não somente se paga Carma pelo mal que se faz, como pelo bem que se deixa de fazer, podendo-se fazê-lo.
Prática esotérica com a Runa Rita >
Textos de: V.M Samael Aun Weor
Os textos acima são seleções de Conferências, Palestras ou textos de autoria do V.M.Samael Aun Weor.
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