Quando julgamos que a mente está quieta, quando cremos que está em silêncio, e, no entanto, não vem nenhuma experiência divina, é porque não está quieta nem em silêncio. No fundo ela continua lutando, no fundo ela está conversando...
Então, através da meditação, temos de encará-la, dialogar com ela, recriminá-la e interrogá-la para saber o que quer. Devemos dizer: Mente, por que não ficas quieta? Por que não me deixas em paz? A mente dará alguma resposta e nós contestaremos com outra explicação, tratando de convencê-la. Se não quiser se convencer, não restará outro remédio senão submetê-la por meio de recriminações e usando o látego da vontade.
O domínio da mente vai além da meditação nos opostos. Assim que, por exemplo, nos assalta um pensamento de ódio, uma lembrança malvada, temos de tratar de compreendê-lo, tratar de ver sua antítese: o amor. Se há amor, para que esse ódio? Com que objetivo?
Surge, por exemplo, a lembrança de um ato luxurioso. Temos de passar pela mente o cálice sagrado e a santa lança, dizendo: Por que hei de profanar o santo com os meus pensamentos morbosos?
Se surgir a imagem de uma pessoa alta, se deve vê-la baixinha e isso seria o correto, posto que na síntese está a chave.
Saber buscar sempre a síntese é benéfico porque da tese se passa para a antítese, porém a verdade não se encontra na tese nem na antítese. Na tese e na antítese há discussão e isso é realmente o que se quer: afirmação, negação, discussão e solução. Afirmação de um mau pensamento e negação do mesmo mediante a compreensão de seu oposto. Discussão: temos de discutir para ver o que há de real num e noutro até se chegar à sabedoria e deixar a mente quieta e em silêncio. Assim é como se deve praticar.
Tudo isto faz parte das práticas conscientes, da observação do que há de desatento. Se dissermos simplesmente: é a lembrança de uma pessoa alta e lhe antepormos uma pessoa baixinha e pronto, isso não estará certo. O correto seria dizer: o alto e o baixo não são senão dois aspectos de uma mesma coisa, o que importa não é o alto nem o baixo e sim o que há de verdade por trás de tudo isto. O alto e o baixo são dois fenômenos ilusórios da mente. Assim é como se chega à síntese e à solução.
O desatento em alguém é o que está formado pelo subconsciente, pelo incoerente, pela quantidade de recordações que surgem na mente, pelas memórias do passado que assaltam uma e outra vez, pelos resíduos da memória, etc.
Não temos que rechaçar nem aceitar os elementos que constituem o subconsciente. Simplesmente, temos de nos tornar conscientes do que há de desatento, ficando assim o desatento, atento. De forma espontânea e natural o desatento fica atento.
Há que se fazer da vida comum uma contínua meditação. Não somente é meditação aquela ação de aquietar a mente quando estamos em casa ou nos lumisiais, mas também aquela que transcorre no viver diário. Assim, nossa vida se converte de fato numa constante meditação. Eis como nos chega realmente a verdade.
A mente em si é o Ego. É urgente a destruição do Ego para que a substância mental fique livre e com a qual se poderá fabricar o corpo mental. Porém, no final, sempre restará a mente. O importante é livrar-se da mente. Ficando-se livres dela, deveremos aprender a nos desenvolver no mundo do Espírito Puro sem ela. Há que se saber viver nessa corrente do som que está além da mente e que não é do tempo. Na mente, o que há é ignorância. A sabedoria real não está na mente, está além da mente. A mente é ignorante e por isso cai e cai em tantos erros graves.
Quão néscios são aqueles que fazem propagandas mentalistas! Aqueles que prometem poderes mentais, que ensinam os outros a dominar a mente alheia, etc. A mente não fez feliz a ninguém. A verdadeira felicidade está muito além da mente. Ninguém pode chegar a conhecer a felicidade até que se torne independente da mente.
Os sonhos são próprios da inconsciência. Quando alguém desperta a consciência, deixa os sonhos. Os sonhos nada mais são do que projeções da mente. Lembro-me de certo caso vivido por mim nos mundos superiores. Foi somente um instante de descuido, porém vi como me saiu da mente um sonho. Já ia começar a sonhar, quando reagi dentre o sonho que me escapara por um segundo. Como me dei conta do processo, rapidamente me afastei daquela forma petrificada que escapara da minha própria mente. Que tal se tivesse ficado adormecido? Teria ficado enredado naquela forma mental. Quando alguém está desperto, sabe naturalmente que de um momento de desatenção pode escapar um sonho e nele ficará enredado toda noite até o amanhecer.
O que importa é despertar a consciência para se deixar de sonhar, para se deixar de pensar. Este pensar, que é matéria cósmica, é a mente. Até o próprio astral não é mais do que cristalização da matéria mental e o nosso mundo físico também é mente condensada. Assim, pois, a mente é matéria e bem grosseira seja no estado físico ou no estado chamado astral, manásico, como dizem os hindus. De qualquer forma, a mente é grosseira e material tanto no astral como no físico.
A mente é matéria física ou metafísica, porém matéria. Portanto, não pode nos fazer felizes. Para conhecer a autêntica felicidade, a verdadeira sabedoria, devemos sair da mente e viver no mundo do Ser. Isto é o importante!
Não negamos o poder criador da mente. Claro que tudo que existe é mente condensada. Porém, o que ganhamos com isso? Por acaso, a mente nos deu felicidade? Podemos fazer maravilhas com a mente, podemos criar muitas coisas na vida, os grandes inventos são mente condensada, mas esse tipo de criações não nos fez felizes.
O que precisamos é de independência, temos de sair desse calabouço de matéria, porquanto a mente é matéria. Temos de sair da matéria e viver em função do espírito como seres, como criaturas felizes, além da matéria. A matéria não fez feliz a ninguém porque a matéria é sempre grosseira, ainda que possa assumir formas bonitas.
Se estamos buscando a autêntica felicidade, não a encontraremos na matéria e sim no espírito. Precisamos nos libertar da mente. A verdadeira felicidade vem a nós quando saímos do calabouço da mente. Não negamos que a mente possa ser criadora de coisas, de inventos, de maravilhas e de prodígios, porém, por acaso, isso nos torna felizes? Quem de nós é feliz?
Se a mente não nos trouxe a felicidade, temos de sair da mente e buscá-la em outro lugar. Obviamente, a encontraremos no mundo do espírito. Porém, temos de saber como é que escaparemos da mente, como é que nos libertaremos da mente. Pois este é o objetivo de nossas práticas e estudos, os quais temos entregado nos livros gnósticos e neste tratado da Revolução da Dialética.
Em nós há apenas uns 3% de consciência e uns 97% de subconsciência. O que temos de consciente deve dirigir-se ao que temos de inconsciente ou subconsciente a fim de recriminar e fazer ver que tem de tornar-se consciente. Há necessidade que a parte consciente recrimine a parte subconsciente. Isto de que a parte consciente se dirija à parte subconsciente é um exercício psicológico muito importante que se pode praticar na aurora.
Assim, as partes inconscientes vão pouco a pouco se tornando conscientes.
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Sobre o autor: Ivan Bottion é empresário, publicitário, empreendedor e um dos principais colaboradores do site Esoterikha.com na produção de conteúdo. Também assina muitos de seus textos com o pseudônimo de Luis Alves, tendo assim a liberdade de se expressar sobre os mais diversos assuntos disponíveis neste site. Seguir: Google + | Facebook | Twitter