Amizades verdadeiras são o melhor remédio para a saúde mental e física de qualquer pessoa. A cada dia a ciência e os especialistas de comportamento comprovam o que de certa forma é obvio, amigos e boas amizades são fundamentais para uma saúde rica e uma vida mental equilibrada, confira a matéria da Folha de S.Paulo (12/02/2004 - 07h19)
"Amizade não precisa ser pegajosa, não é preciso nem estar sempre junto", diz Rosa Ramos. Sua amiga Mara Lúcia Buso concorda nesse caso, porque sempre não dá para concordar, "senão perde a graça".
Com personalidades diferentes, elas acham que, para manter uma amizade longa como a delas, que dura cerca de 15 anos, é preciso respeitar o espaço de cada uma e, de vez em quando, dar aquela "chacoalhada" que só uma amiga de verdade pode dar.
Para Rosa Ramos, 60, e Mara Lúcia Buso, 47, o ritual é o treino de vôlei, praticado religiosamente três vezes por semana na ACM (Ass. Cristã de Moços) da Lapa, em São Paulo. A afinidade no esporte criou uma sólida amizade além das quadras e deu vitórias afetivas e emocionais à dupla. "Por causa das amigas do vôlei, nem preciso fazer terapia", diz Mara.
Pesquisas médicas indicam que amizades são mesmo fundamentais para a saúde mental e física. Gerald Ellison, diretor do serviço de psiconeuroimunologia do Centro de Tratamento de Câncer da América, em Tulsa, Oklahoma (EUA), diz que "sem amizades experimentamos isolamento, solidão, sentimentos associados a doenças. Amigos podem aumentar nossa esperança. E maior esperança está associada a melhor desempenho do sistema imunológico". Foi o que vivenciou a advogada Teresa Casadeval, 45.
Em 1978, ela teve um linfoma bastante sério, tratado por Drauzio Varella. Curou-se completamente e acha que sobreviveu não só pelo tratamento mas também pelo apoio que recebeu das amigas de infância, que mantém até hoje.
Não é novidade que o apoio emocional de amigos ajuda a lidar com situações de estresse. Agora, uma pesquisa da Universidade da Califórnia (EUA) sugere que, nas mulheres, as substâncias produzidas pelo cérebro em resposta ao estresse levam-nas a procurar suas amigas. Aparentemente, quando é liberado um hormônio chamado oxitocina, os impulsos de lutar ou de fugir, associados ao estresse, são substituídos por uma tendência para unir-se aos amigos e dar carinho, explica Laura Cousin Klein, professora de saúde biocomportamental na Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA). Quanto mais a convivência é realizada, mais oxitocina é liberada, o que produz um efeito calmante e reduz o estresse.
Amizades sólidas também propiciam uma velhice melhor. "Principalmente se você tem o privilégio de conviver com jovens com quem criou vínculos de afeto sem que eles sejam de sua família", diz o advogado e ex-ministro da Justiça José Gregori, 73. Gregori tem um grupo de jovens amigos e acha que a amizade de velho com jovem é geralmente plural. "Mais ou menos a idéia de Sócrates e seu grupo, mas pensando como discípulos do meu afeto", diz.
Um desses amigos, o advogado Gustavo Hungaro, 29, conta que admirava Gregori desde que cursava a faculdade de direito, mas ele era um referencial ainda distante. Quando começaram a trabalhar juntos na Secretaria de Direitos Humanos, o contato profissional gerou um apreço recíproco e uma amizade que independe dos laços profissionais, mas mantém afinidades comuns à trajetória dos dois: "Estamos nos reunindo para organizar mesas-redondas sobre as causas da violência. As grandes amizades também propiciam nossa ação no espaço coletivo", diz Hungaro, numa espécie de comprovação das idéias da antropologia da emoção discutidas por Mauro Koury.